Mais que um curso, uma proposta de mudança de vida.

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No cenário da sociedade atual é muito comum vermos as pessoas apressadas, confusas, agitadas e infelizes. A filosofia zen budista nos conscientiza da relação existente entre esta corrida cega e a infelicidade humana.
Ao compreender o ensinamento (dharma) e ao praticar a meditação zen (zazen), o sujeito dá início a uma transformação gradativa na sua maneira de agir e é convocado a dedicar tempo às suas ações.
Através destas pequenas paradas, começa a reconhecer a si mesmo e aquilo que está à sua volta, verificando e legitimando o que é apropriado para a sua vida. Desta forma, entende quando e como deve agir, investindo naquilo que, de fato, interessa: o verdadeiro bem-estar.


O  CONSUMO  NA  ATUALIDADE

É interessante pensarmos como algumas dificuldades cotidianas refletem situações que nos exigem uma consciência clara do que queremos e necessitamos.

Penso sobre a situação que algumas vezes nos deparamos de precisar e querer comprar um novo sapato, calça comprida, uma bolsa, ou algo desta ordem.

Quando sentimos esta necessidade/desejo, inicia-se um processo subjetivo de buscarmos tempo hábil em nossas rotinas para realizar tal intento.

Isto em si, não é algo fácil, mas se bem pensado, passível de ser planejado. Digo isso, pois acho que esta é a primeira dificuldade do processo e muitas vezes não chega a ser pensado como uma dificuldade. E sim como algo a ser feito por aí, à “qualquer hora”.

Quando não se dá tempo para realizar este ato, a chance de se comprar algo equivocado é muito maior. Em geral, as pessoas, pensam que numa rápida passada de fim de semana no shopping, olharão as vitrines e se depararão com aquilo que julgam “procurar”.

As aquisições feitas a partir deste movimento, em geral, são dispendiosas, desnecessárias e inadequadas. Fazendo com que aquele que comprou não use aquilo que adquiriu ou se sinta culpado por não ter “sabido” escolher bem aquilo que “procurava”.

A pergunta é: o sujeito procurou? Antes disso, o sujeito sabia aquilo que necessitava e desejava? Caso saiba deu espaço e tempo para achar?

Percebo que muitas vezes, este processo subjetivo não se completa, por que o sujeito se vê absolutamente “sem tempo”, ou interditado internamente (culpa), ou desautorizado a gastar (consumir) com algo e muitas vezes sem motivação ou desejo de investir neste ato.

Estamos aqui falando de um movimento que faz parte da vida de todos, pois precisamos adquirir objetos, mas um movimento que parece silencioso, individual demais, e que não é passível de ser compartilhado.  

É exercido quase que na clandestinidade, como uma ação que deve ser praticada rapidamente. Alguns dirão que, ao contrário, o consumo hoje é muito barulhento, visível, e demasiado. Concordo, há uma face do consumo que cumpre justo esta mecânica, mas este modo de consumir parece ser uma defesa inconsciente para não se colocar de novo a possibilidade e necessidade de estar diante de uma escolha consciente.

Compra-se compulsivamente para não ter que lidar com a compra real, necessária, e desejante (escolha). E de tanto não fazer de uma forma apropriada, o sujeito acaba por desconhecer em si esta possibilidade.

Isto posto o sujeito o qual pensa sua necessidade/ desejo de consumir algo, se dá este tempo e espaço para o consumo e o que encontra nos Shopping Centers? Uma avalanche de coisas que nada tem a ver consigo mesmo, enquanto hábito de consumo, conforto, praticidade, qualidade e bom preço.

Depara-se com muitos vendedores, vitrines e objetos que respondem por “tendências”. O sujeito começa a se sentir meio “E.T.”, e adere, com alguma resistência, à “'tendência”, abrindo mão dos seus critérios para uma boa e singular escolha ou inicia um processo de sentir-se um pouco frustrado, “fora da realidade”, podendo adiar sua compra. Mas, continua necessitando/ desejando os objetos.

O que fazer quando se veste 40 e os tamanhos G das lojas não cabem?! Mudaram a padronagem ou as pessoas todas emagreceram, e não é elegante se questionar isso? Todos têm que vestir 38 e se isso não acontecer devemos mais uma vez nos sentir culpados e jurarmos que não comeremos mais chocolates?

O sujeito se pergunta onde foram parar as calças (jeans) clássicas? Clássicas?! O que é isso? Repete  o vendedor, com ares de perplexidade. Aquelas calças que tem cortes retos, bocas que te permitem algum movimento, que não sejam totalmente coladas nas pernas do início ao fim, diz o sujeito se sentindo um dinossauro.

A resposta quase sempre é de total desconhecimento e descaso. O sujeito, segue sua jornada e tenta comprar um sapato de qualidade, confortável e com um preço justo. Encontra-se com sapatos psicodélicos, caríssimos e totalmente desconfortáveis. O vendedor não hesita em dizer que ficou ótimo e o sujeito desanimado não consegue nem discordar. Sai da loja e se convence que terá que dedicar muito mais tempo e espaço para este ato, que um dia, foi simples, quando não havia tantas ofertas de produtos, tendências e preços proibitivos, fora do parâmetro mundial. Ou totalmente desistente.

 Ficamos todos ricos, magérrimos e despreocupados com aquilo que queremos e necessitamos ou desistimos de desejar? De minha parte, quero compartilhar que atualmente para comprar algo tenho dedicado bastante tempo à isso e estou consciente da necessidade em fazê-lo. Não quero/posso comprar algo que realmente não desejo/ necessito, daí a exigência do trabalho “psíquico”.

Penso que enquanto dedicamos uma quantidade de energia em realizar este ato, nos trabalhamos também internamente. É muito interessante perceber que é possível encontrar aquilo que realmente se identifica, quer e precisa por um preço justo.

Outro exemplo de consumo tumultuado, confuso e agitado está no consumo de entretenimento. Ir atualmente ver um filme no cinema é algo a ser planejado com algumas horas de antecedência e arranjado com um tempo razoável de chegada ao local. Se a necessidade /desejo é de escolher um filme que se goste e que se possa tomar um café e dar uma olhada na livraria.

Percebi um dia destes, esse processo claramente quando me coloquei a necessidade de escolher com antecedência pelo jornal e internet o filme e o local para vê-lo (isso leva um tempinho), depois, chegar ao local com pelo menos uma hora de antecedência se o sujeito quiser se desobrigar de passar pelo lento processo de comprar pela internet e pagar pela taxa de serviço.

Feito isso, você terá que estacionar o carro, o que significa procurar um estacionamento (com vagas), quando finalmente o sujeito chega ao cinema, o café do cinema, que tem salgadinhos e docinhos absolutamente normais com preços de delicatessen, exibem filas quilométricas.

Ou seja, se o sujeito não tiver reservado ao menos 20 mins para estar na fila e 15mins para comer, não poderá fazê-lo. Os banheiros estão com sinais claros de superlotação, seja pela dificuldade de manutenção, seja pelas filas que muitas vezes, nos atrasam para o início do filme. Então, parei e olhei algumas pessoas neste processo de “dar conta” de chegar num cinema, comprar seu ingresso (depois de uma “boa” fila), comprar seu café (outra grande fila) e finalmente irem ao banheiro e me pareceu que estivessem quase numa maratona. Chegam à sala do filme, exaustas!

Para passar por tudo isso respirando e tranquilo é, mais uma vez, necessário dedicar tempo a esta ação.

Escrevo sobre isso porque penso poder ajudar aqueles que já desistiram de realizar estes atos, ou para aqueles que o fazem solitária e depressivamente sem compartilhar suas angústias para transformá-las. É possível realizar este prazer sem ser devorado por essa forma selvagem de consumo.

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